sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tópicos da aula sobre URSS (11/10)

TEORIAS SOBRE A NATUREZA DO ESTADO SOVIÉTICO
Marcio A. L. M. Monteiro

Introdução: a importância da discussão teórica

Estado totalitário

- ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. 1951;

- Foco na “cultura política” e nas relações indivíduo-Estado;

- Caracterização limitada ao regime político;

- “Institucionalização” da propaganda ideológica e do terror enquanto os pilares do regime totalitário;

- Destruição da individualidade em prol do ser coletivo (raça ou classe), através do emprego do terror e da reordenação social via propaganda ideológica;

- Características fundamentais do Estado totalitário:

- Consequente aproximação entre comunismo e nazismo.

Pós-modernismo

- Vários. O Século dos Comunismos (2000). Destaque para Bruno Groppo e Claudio Ingerflom;
- Foco no regime político, porém sem uma sistematização conceitual;

- A inspiração em François Furet;

- Desconstrução da revolução (transformação em “mito”);

- Homogeneização da história da URSS;

- Bolchevismo enquanto “continuidade radicalizada do czarismo” (burocratização enquanto algo inevitável, decorrente do passado czarista e seus costumes);

- URSS enquanto um Império.

Capitalismo de Estado

- As várias teorias do “coletivismo burocrático”;

- PANNEKOEK, Anton. State Capitalism and Dictatorship. 1936;

- Concepção materialista;

- Foco na relação entre infraestrutura econômica e Estado;

- Permanência do modo de produção capitalista;

- A caracterização da burocracia enquanto uma nova classe.

Estado operário burocraticamente degenerado

- TROTSKY, Leon. A Revolução Traída. 1936;

- Foco na infraestrutura econômica e no caráter de classe do Estado;

- O conceito de reação termidoriana e a mudança qualitativa no regime do Estado soviético;

- A burocracia enquanto casta, ao invés de classe;

- O caráter dual da burocracia;

- O programa da revolução política.

AS CONTRA-REVOLUÇÕES NO LESTE EUROPEU

Pressões externas
- Nascimento do neoliberalismo: Tatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA.

A restauração do capitalismo

- A Perestroika e a Glasnost de Gorbachev (1986);

- A “abertura” do Leste Europeu (1988);

- A vitória eleitoral do Solidariedade (1989);

- A reação da “linha dura” do stalinismo: o golpe do “Bando dos 8” (Comitê de Emergência);

- Yeltsin e a ala restauracionista triunfam: desmonte da “linha dura” e privatização (transformação da burocracia em burguesia).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HANNAH, Arendt. Origens do Totalitarismo. S/d.

ZOCARATO, Clayton. Estado Totalitário: concepção do termo em Hannah Arendt e sua relação com outros autores. S/d. Disponível em webartigos.com.

CONCEIÇÃO, Edilene M. da. Ideologia e terror: a configuração do totalitarismo em Hannah Arendt. S/d. Disponível em iptan.edu.br

GROPPO, Bruno. O Comunismo na História do Século XX. S/d. Disponível em scielo.br.

INGERFLOM, Claudio et alii. Da Rússia à URSS. In: GROPPO, Bruno et alii. O Século dos Comunismos.  S/d.

FERREIRA, Jorge. URSS: Mito, utopia e história. S/d.

PANNEKOECK, Anton. State capitalism and Dictatorship. S/d, 1936. Disponível em marxists.org.

VIANA, Nildo. O Capitalismo de Estado da U.R.S.S. S/d, 1993. Disponível em scribd.com.

TROTSKY, Leon. A Revolução Traída. São Paulo: Instituto  José Luís e Rosa Sunderman, 2007.

TROTSKY, Leon. Em Defesa do Marxismo. São Paulo: Instituto  José Luís e Rosa Sunderman, 2011.

MANDEL, Ernest. Why the soviet bureaucracy is not a new ruling class. S/d. Disponível em marxists.org.

HOBSBAWN, Eric J. A Era dos Extremos. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2008.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Disciplina 2011.2

INFORMAÇÕES SOBRE A DISCIPLINA

Profa.: Dra. Maria Paula de Araújo
Horário: De 18:10 às 21:30 (+-)
Sala: 200
Pasta: Xérox do 2º andar
Monitor: Marcio Monteiro (contato: marciolauria@yahoo.com.br)

HISTÓRIA DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
(2011.2)

O objetivo do curso é discutir com os alunos alguns dos principais elementos do mundo contemporâneo, enfocando uma mudança estrutural que se dá em torno das décadas de 1970/1980. O curso discutirá as relações internacionais, a revolução de costumes, a importância do terceiro Mundo e da crise do socialismo, a emergência de novos sujeitos políticos, os conceitos de globalização e pós-modernidade.
O curso também abordará alguns problemas dos primeiros anos do séc. XXI: o islamismo como ator político, a emergência da questão indígena na América Latina e as novas configurações internacionais.

Introdução: Aula de abertura: O longo século XX (Giovanni Arrighi) e o Breve Século XX (Hobsbawm). O explosivo século XXI

1- O Mundo Pós 45: bi-polaridade, guerra fria, prosperidade ocidental.
Leituras:
-Vizentini, Paulo,“A Guerra Fria”; . IN: REIS FILHO, FERREIRA & ZENHA (Orgs.) “O Século XX, Tempo de crises”, RJ, Civilização Brasileira, 2000.

2- A década de 60: 1968, a rebelião estudantil, novos sujeitos políticos e a revolução dos costumes.
Leituras:
-Araújo, Maria Paula,“A Utopia Fragmentada”, RJ, FGV, 2000, cap. II, “novas esquerdas no mundo”.
- Hobsbawm, Eric, “A Era dos Extremos”, SP. Companhia das Letras, 1995, cap. 11, “Revolução Cultural”.

3- Revolução no Terceiro Mundo.
Leituras:
- Araújo, Maria Paula, “Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 1970”. IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008
- Hobsbawm, Eric, “A Era dos Extremos, cap.12 “O terceiro mundo” e cap 15, “Terceiro Mundo e revolução”, ”, SP. Companhia das Letras, 1995
-MIRANDA, Felix, “Angola, o futuro é possível”, Veja, Lisboa, 2000.

4- O colapso do socialismo.
Filme: “O homem de mármore” OU “Adeus, Lenine”.
Leituras:
- Hobsbawm, Eric, “A Era dos Extremos”, SP. Companhia das Letras, 1995, cap. 13, “Socialismo real” e cap 16, “Fim do socialismo”.
- Berstein, Serge & Milza, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP,  Companhia Editora Nacional, 2007. Cap 12, “A derrota do comunismo” e cap. 13, “O pós comunismo na Europa Oriental”.

5 – A China.
Filme: “Balzac e a costureirinha chinesa”
Leitura:
- Berstein, Serge & Milza, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP,  Companhia Editora Nacional, 2007. Cap 15, “China: entre o socialismo e o capitalismo”.

6 – América Latina Latina na contemporaneidade
Leituras:
- Teixeira, Francisco Carlos, “A América Latina e o Brasil: da era das ditaduras aos processos de redemocratização” IN: Berstein, Serge & Milza, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP, Companhia Editora Nacional, 2007.
- D´Araujo, Maria Celina, “Densidade democrática e instabilidade na redemocratização latino-americana” IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008

 8- Ideologias e utopias no século XXI.
Leituras:
- Berstein, Serge & Milza, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP,  Companhia Editora Nacional, 2007. Cap 17, “Crise das ideologias e novas religiosidades”.
- Quadrat, Samantha Viz, “A emergência do tema dos direitos humanos na América Latina” IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008.
- Sánchez, Consuelo, “Autonomia, Estados Pluriétnicos e Plurinacionais”, ENAH (Escuela Nacional de Antropologia e Historia), México (Internet).

9- O Mundo Árabe: tensões e conflitos no Oriente Médio, Israel e Palestina
Leituras:
“Cultura e Política”, Edward Said
“Contra o fanatismo”, Amos Óz
Filme: “Promessas de um mundo novo” (documentário).

Bibliografia:

ARAUJO, Maria Paula,“A Utopia Fragmentada”, RJ, FGV, 2000.

------------------------------ “Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 1970”. IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008

BERSTEIN, Serge & MILZA, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP,  Companhia Editora Nacional, 2007.

D´ARAUJO, Maria Celina, “Densidade democrática e instabilidade na redemocratização latino-americana” IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008

FICO, Carlos; FERREIRA, Marieta; ARAUJO, Maria Paula & QUADRAT, Samantha Viz (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008.

HOBSBAWM, Eric, “A Era dos Extremos”, SP. Companhia das Letras, 1995

MIRANDA, Felix, “Angola, o futuro é possível”, Veja, Lisboa, 2000.

OZ, Amós, “Contra o fanatismo”, Ediouro, 2004.

QUADRAT, Samantha Viz, “A emergência do tema dos direitos humanos na América Latina” IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008.

REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge & ZENHA, Celeste, (Orgs.) “O Século XX, Tempo de crises”, RJ, Civilização Brasileira, 2000.

ROMERO, José Luis. “As cidades e as Idéias”. Editora UFRJ, 2004, capítulo final: “As cidades massificadas”.

SÁNCHEZ, Consuelo, “Autonomia, Estados Pluriétnicos e Plurinacionais” , ENAH (Escuela Nacional de Antropologia e Historia), México (Internet)

SAID, Edward, “Cultura e Política” , Boitempo Editorial, 2003

TEIXEIRA, Francisco Carlos, “A América Latina e o Brasil: da era das ditaduras aos processos de redemocratização” IN: Berstein, Serge & Milza, Pierre, “História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI”, Vol. 3, SP, Companhia Editora Nacional, 2007.

VIZENTINI, Paulo,“A Guerra Fria”, IN: “O Século XX, Tempo de crises”, RJ, Civilização Brasileira, 2000.

---------------------------, “Dez anos que abalaram o século XX: da crise do socialismo à guerra ao terrorismo”, Porto Alegre, Editora Leitura XXI, 2002

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Texto 17

O Texto 17 (SÁNCHEZ, Consuelo, “Autonomia, Estados Pluriétnicos e Plurinacionais”) está disponível para download através do seguinte link: http://www.4shared.com/document/csg29LHu/Consuelo_Snchez.html


O texto se inicia na página 63 do períodico.



domingo, 26 de junho de 2011

Notas finais

Seminários

Operação Carlota (Angola) -  4,5
Crise dos mísseis em Cuba - 3,0
Revolução Cultural chinesa - 3,5
Neorrealismo Russo - 4,0

Primavera de Praga - 3,0
Revolução dos Cravos - 4,5
Direitos civis nos Estados Unidos - 3,0

Notas finais
(clique nas imagens para ampliar)




 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Informações sobre as avaliações

PROVA


Dia: 10/05.
Conteúdo: todas as unidades trabalhadas até a aula anterior à avaliação (dia 03/05).
Especificações:
- a ser realizada em sala de aula, individualmente e sem consulta;
- serão fornecidas 4 questões, sendo que o aluno deverá selecionar e responder a apenas 2;
- limite máximo de 6 laudas (lembre-se de levar folhas almaço).

APRESENTAÇÃO DE TRABALHO


Dias: 14/06 e 21/06.
Tema: qualquer tema presente no programa ou inserido no recorte temporal do curso. Buscar escolher temas o mais específicos e pontuais possíveis.

Especificações:
- os alunos devem se dividir em 4 grupos de 7 e 4 grupos de 8;
- cada grupo deverá preparar uma apresentação de cerca de 20 minutos, com um ou dois oradores;
- o grupo deverá entregar uma parte escrita, consistindo em um resumo/roteiro da apresentação;
- os grupos que desejarem, poderão utilizar recursos multimídia (aúdio, vídeo, apresentação de slides, etc.).

Possíveis dúvidas sobre a prova e o trabalho (incluindo escolha do tema, bibliografia, etc.), entrem em contato com o monitor: marciolauria@yahoo.com.br

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tópicos da aula sobre URSS (12/04)

TEORIAS SOBRE A NATUREZA DO ESTADO SOVIÉTICO

Estado totalitário

- ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo (1951);

- Foco na “cultura política” e nas relações indivíduo-Estado;

- Caracterização limitada ao regime político;

- Institucionalização da propaganda ideológica e do terror enquanto os pilares do regime totalitário;

- Destruição da individualidade em prol do ser coletivo (raça ou classe), através do emprego do terror e da reordenação social via propaganda ideológica;

- Características fundamentais do Estado totalitário: imperialismo territorial;
                                                                                              partido único;
                                                                                              constante propaganda ideológica;
                                                                                              emprego sistemático do terror;
                                                                                              culto ao líder carismático;

- Consequente aproximação entre comunismo e nazismo.

Pós-modernismo

- Vários. O Século dos Comunismos (2000). Destaque para Bruno Groppo e Claudio Ingerflom;
- Foco no regime político, porém sem uma sistematização conceitual;

- A inspiração em François Furet;

- Desconstrução da revolução (transformação em mito);

- Homogeneização da história da URSS;

- Bolchevismo enquanto continuidade radicalizada do czarismo (burocratização enquanto algo inevitável, decorrente do passado czarista e seus costumes);

- URSS enquanto um império.

Capitalismo de Estado

- PANNEKOEK, Anton. State Capitalism and Dictatorship (1936);
- Concepção materialista;

- Foco na relação entre infraestrutura econômica e Estado;

- Permanência do modo de produção capitalista, porém sem a burguesia;

- A caracterização da burocracia enquanto uma nova classe.

Estado operário burocraticamente degenerado

- TROTSKY, Leon. A Revolução Traída (1936);

- Foco na infraestrutura econômica e no caráter de classe do Estado;

- O conceito de reação termidoriana e a mudança qualitativa na estrutura do Estado soviético (democracia soviética para degeneração burocrática);

- A burocracia enquanto casta, ao invés de classe;

- O caráter dual da burocracia (restaurar o capitalismo ou manter seus privilégios de casta?);

- O programa da revolução política.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(em ordem de aparição

 HANNAH, Arendt. Origens do Totalitarismo. S/d.
ZOCARATO, Clayton. Estado Totalitário: concepção do termo em Hannah Arendt e sua relação com outros autores. S/d.
CONCEIÇÃO, Edilene M. da. Ideologia e terror: a configuração do totalitarismo em Hannah Arendt. S/d.
GROPPO, Bruno. O Comunismo na História do Século XX. In: _____ et alii. O Século dos Comunismos. S/d.
INGERFLOM, Claudio et alii. Da Rússia à URSS. In: GROPPO, Bruno et alii. O Século dos Comunismos.  S/d.
PANNEKOECK, Anton. State capitalism and Dictatorship. S/d, 1936. Disponível em marxists.org.
TROTSKY, Leon. A Revolução Traída. São Paulo: Rosa e Luís Sunderman, 2007.
TROTSKY, Leon. Em Defesa do Marxismo. S/d. Disponível em marxists.org/pt.
MANDEL, Ernest. Why the soviet bureaucracy is not a new ruling class. S/d. Disponível em marxists.org.

HOBSBAWN, Eric J. A Era dos Extremos. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2008.
TROTSKY, Leon. História da  Revolução Russa. São Paulo: Rosa e Luís Sunderman, 2007.

sábado, 26 de março de 2011

Mesa redonda sobre as revoltas árabes


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A área de História Contemporânea do Instituto de História e os laboratórios do NIEJ e do Tempo Presente, têm o prazer de convidar para a mesa redonda:


Revoltas árabes e reflexão histórica
 
 
Francisco Carlos Teixeira da Silva (UFRJ)
Michel Gherman (UFRJ)
Murilo Sebe Bon Meihy (PUC-Rio)

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Data: 1º de abril de 2011, às 10:00
Local: IFCS e Instituto de História. Largo de São Francisco, n.1, Sala 106
Contato: labniej@gmail.com

terça-feira, 22 de março de 2011

Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 70


Araújo, Maria Paula, “Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 1970”. IN: FICO, FERREIRA, ARAUJO & QUADRAT (Orgs.), “Ditadura e Democracia na América Latina”, RJ, FGV, 2008

“Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 70”[1]


Profa. Dra. Maria Paula Araújo
(PPGHIS/UFRJ)
Apresentação.

O tema desta mesa-redonda são os movimentos de resistência, de luta, de enfrentamento e de oposição aos regimes militares na América Latina e o tema da minha comunicação, em particular,  é a radicalidade política da juventude que compunha uma parte significativa das  organizações e partidos de esquerda latino-americanos.
Esta comunicação faz parte de uma linha de pesquisa que venho desenvolvendo aqui na UFRJ sobre a história das esquerdas no Brasil, a partir da qual se estrutura um acervo de depoimentos orais intitulado “Memórias de Esquerda[2]. As entrevistas estão quase todas transcritas e abertas a consulta pública.
A comunicação que eu vou fazer aqui, enfocando juventude e radicalidade, procura dar conta de uma questão específica: a construção do conceito de “violência revolucionária”, ou seja, de uma noção positiva de violência como instrumento legítimo de ação política.
Essa questão, que foi muito debatida nos 1960 e 70, tornou-se nos últimos tempos, um tabu. Após os processos de redemocratização de vários países latino-americanos, o tema da violência revolucionária tornou-se incômodo, porque, de certa forma, ele dificultava os processos de pactuação política em curso.
Mas, a meu ver, procurar entender a construção de uma noção positiva de violência política, compreender o sentido dado a esta violência pelos seus atores é tentar recuperar os, projetos, sonhos, anseios e estratégias políticas da época. E, neste sentido, encarar aqueles que foram presos, banidos, torturados e mortos não apenas como vítimas mas também como combatentes políticos com projetos definidos. No caso, com o projeto da revolução.

A radicalidade como sintoma político das décadas de 1960 e 70.
Esquerdas, juventude e radicalidade política estiveram fortemente vinculados e, mais do que isso, deram uma marca inequívoca às décadas de 1960 e 70 na América Latina. Em boa parte do continente esta conjugação se expressou na proposta política de luta armada.  Muitos foram os países latino americanos que, nas décadas de 60, 70 e até 80, experimentaram a luta armada com o objetivo de uma revolução socialista: Venezuela, Guatemala, Peru, Colômbia, Nicarágua, Uruguai, Brasil, Argentina. Mas para aprofundarmos esta discussão temos que ter claro alguns aspectos: em primeiro lugar temos que ter em conta o fato de que a atração pelo radicalismo político e a opção pela violência revolucionária não atingiu apenas a juventude latino americana. Este foi um fenômeno internacional e de forte impacto no mundo ocidental. Paradoxalmente, na mesma época do movimento hippy, do enaltecimento à paz e ao amor, da onda transcendental e do slogan “Faça o amor, não faça a guerra” que arrebatava uma parcela da juventude ocidental, uma outra parte desta juventude era seduzida pela idéia do radicalismo político, do confronto direto, da ação direta sem intermediação e da valorização da violência. Uma parte da esquerda mundial rendia-se ao imperativo da violência e se esforçava para construir uma justificativa teórica e política que a embasasse.

A juventude européia armada

Durante os anos de 1960 e 70 as experiências de luta armada se espalharam não apenas pelos países da América Latina mas em todo o mundo, inclusive na Europa – na Espanha franquista, na Itália, na Alemanha. Nestes países organizações de extrema esquerda constituíam grupos armados convencidos de que a violência revolucionária era a opção política mais justa e mais eficaz. A grande maioria dos quadros destas organizações armadas era formada por jovens, muitos deles egressos ou recém saídos dos bancos universitários. A violência dos regimes ao combate-los foi imensa. Na Espanha franquista, na Catalunha (tradicional região de resistência política) foi criado, em 1971 o Movimento Ibérico de Libertação – Grupos Autônomos de Combate (MIL - GAC). As bases teóricas e políticas deste grupo se ligavam ao movimento de “autonomia operária”, movimento que se desenvolveu na Itália, entre os anos 60 e 70, crítico em relação aos partidos da esquerda tradicional (em especial os Partidos Comunistas de orientação soviética) e aos grandes sindicatos. A “autonomia operária” pregava a ação direta das massas operárias e propunha o que chamava de “greves selvagens” (ou seja, greves sem e contra as direções sindicais)[3]. O grupo espanhol teve curta existência. Em 1973 uma feroz repressão se abateu sobre a organização. Recentemente a história deste grupo voltou à tona a partir de um filme feito na Espanha: “Salvador”. O filme conta a prisão e a execução de Salvador Puig Antich, um jovem de 23 anos de idade, militante do grupo, preso numa ação e condenado pela morte de um policial. Apesar dos protestos mundiais, Salvador foi condenado e executado, em 1974, por garrote vil (a forma bárbara de execução que a Espanha de Franco ainda mantinha em exercício). Foi a última execução do governo franquista.
Na Itália, as Brigadas Vermelhas foram criadas em 1970, como uma organização política ligada à Sinistra Proletária (“Esquerda Proletária”). O objetivo do grupo era “responder com violência à opressão exercida pelo governo sobre as massas proletárias”[4]. A experiência das Brigadas foi mais longa. O ano de 1978 marcou o fim da organização. Ela foi desbaratada pelo governo italiano, após o seqüestro e morte de Aldo Moro, o presidente da Democracia Cristã.
Na Alemanha, também em 1970, foi fundada a Fração do Exército Vermelho, mais conhecido por “Baader – Meinhof” porque os principais líderes do grupo se chamavam Andréas Baader e Ulrike Meinhof. A organização se descrevia como um grupo comunista de guerrilha urbana[5]. O “Baader – Meinhof” foi acusado de vários atentados e crimes de morte durante a década de 70. Seus líderes e militantes foram presos e vários deles apareceram mortos na prisão. A polícia alemã declarou que eles haviam se suicidado.
Cabe ainda mencionar, embora remetam a situações um pouco distintas, o ETA espanhol e o IRA irlandês. Estas duas organizações têm origem em tradições separatistas e independentistas muito anteriores ao período que estamos estudando mas, de certa forma, também podem ser vistas como produtos dos anos 60 e 70 e da valorização da violência que marcou este período. O ETA foi fundado por jovens bascos marxistas insatisfeitos com a direção que o Partido Nacional Vasco dava à luta separatista. Estes jovens tinham pressa, acreditavam no potencial de um levante popular e desejavam unir as bandeiras separatistas à luta por uma sociedade socialista. O ETA (que em língua basca quer dizer “Pátria Basca e Liberdade”) foi fundado em 1959 como uma organização separatista e socialista. Na segunda metade dos anos 60 passou à luta armada – com o que não concordavam os antigos líderes do Partido Nacional Vasco (PNV), muitos deles antigos combatentes da guerra civil espanhola. Era este tipo de ação armada que os antigos líderes conheciam: a defesa armada de um governo legitimamente eleito contra golpistas. A luta separatista, até a fundação do ETA, não era conduzida através de atentados políticos (bombas, seqüestros, assassinatos). Este tipo de violência e, principalmente, a noção de que esta era uma forma justa e legítima de linguagem política, foi introduzida pelos jovens bascos marxistas nos anos 60; marcados – como muitos em sua época – pela crença na positividade de uma “violência revolucionária”. A partir de sua fundação o ETA iniciou uma série de atentados. Uma de suas ações mais espetaculares foi o atentado a bomba que matou o Primeiro Ministro de Franco, o Almirante Carrero Blanco. Para muitos analistas políticos espanhóis, a morte do jovem Salvador Puig, militante do MIL – GAC, foi uma represália a este atentado. O ETA continua a realizar ações violentas até os dias de hoje. É das poucas organizações de luta armada, criada nos anos 60, que prosseguem mantendo esta linha política no ocidente. Mas certamente hoje sua capacidade de mobilizar e sensibilizar as pessoas (incluindo aí os jovens) é bastante diferente do que era há 40 anos atrás.
Um pouco distinto é o caso da Irlanda, com sua guerra secular pela completa independência da Inglaterra. Nos anos 60, o recrudescimento dos conflitos na Irlanda do Norte, entre os protestantes (unionistas) e os católicos (nacionalistas) levou à criação, em 1969, do IRA. O nome era uma referência e uma homenagem à organização que liderara a luta pela independência da Irlanda entre 1919 e 1921 – Irish Republican Army, o IRA original. A criação deste grupo armado, em 1969, é significativa para a questão que estamos tratando – a universalização da violência como linguagem política nos anos 60 e 70. Sem negar a especificidade da questão da Irlanda e de toda a tradição de sua luta – primeiro pela independência, depois pela unificação – parece inegável que o IRA construiu seu discurso legitimador a partir da noção de uma violência justa e justificada, não só politicamente, mas moralmente, ou seja, a partir da noção de “violência revolucionária”. Assim como o ETA, o IRA continuou ativo até o final do século XX e o início do século XXI. Nos últimos anos, o conjunto das forças políticas existentes no país tem tentado promover uma pacificação. Em 2005 foi assinado um “cessar-fogo”. Estas duas organizações, então, se distinguem do cenário que estamos montando porque elas perduraram muito mais tempo do que as outras, mas sua criação, nos anos nos 60 do século XX, faz parte do contexto que estamos analisando. Apesar de um pouco diferentes elas são, de certa forma, expressões do mesmo fenômeno: a opção política pela violência, encarada como “violência revolucionária”, justificada histórica e moralmente.
Esta opção política feita por todos estes grupos e organizações europeus, pode ser sintetizada num texto de um dirigente do grupo catalão MIL – CAC, Oriol Sole, escrito na prisão modelo de Barcelona. Sole foi assassinado pela Guarda Civil:
« A violência revolucionária é uma resposta global do proletariado à violência do capital.  As manifestações de raiva, de cóleta etc são expressões da guerra civil revolucionária latente.» [6]

Portanto, a opção política pela violência e pelo caminho da luta armada não pode ser vista como um fenômeno limitado à realidade política latino-americana.
Tampouco pode ser encarada, exclusivamente, como uma resposta às ditaduras militares. A experiência da luta armada, em alguns países da América Latina, precedeu aos golpes militares que instituíram regimes ditatoriais: como a guerrilha dos tupamaros no Uruguai e, no caso da Argentina, a experiência da luta armada foi, digamos assim, “entre dois golpes” – posterior à ditadura de Ongania mas anterior ao golpe de 1976. Mas sem dúvida, a instauração de regimes militares arbitrários, violentos e repressivos fez recrudescer a opção pela luta armada e pela guerrilha no continente latino americano. 

Matrizes teóricas e políticas da valorização da violência.
As guerras anticoloniais como modelo.
A valorização da violência como forma de atuação política tem seu berço na experiência das lutas anti coloniais, sobretudo Argélia e Vietnam. O contexto de violência destas guerras engendrou um conceito de “violência justa”, “violência de resposta”, “violência do oprimido contra o opressor”. Uma violência que não seria apenas um recurso extremado de defesa mas um ato valorizado em si próprio, um gesto construtor de identidade, um ato libertador.[7] Esta noção positiva da violência foi claramente expressa num livro que tornou-se um clássico para os militantes de esquerda nos anos 60 e 70: “Os Condenados da Terra”, escrito pelo médico martinicano Frantz Fanon. Fanon foi médico do Exército francês e como tal presenciou os horrores da guerra colonial na Argélia e testemunhou os métodos de humilhação e tortura infligidos pelos oficiais franceses aos guerrilheiros argelinos capturados. Foi este espetáculo de violência e barbárie por parte do colonizador que o fez escrever um livro defendendo um conceito de violência justa: a resposta do colonizado contra o colonizador. Mas para Fanon, esta violência não era apenas uma resposta, era um gesto essencial, construtor da identidade política do colono:
“Ao nível dos indivíduos, a violência desintoxica. Desembaraça o colono de seu complexo de inferioridade, de suas atitudes contemplativas ou desesperadas. Torna-o intrépido, reabilita-o a seus próprios olhos”.[8]
           
No prefácio à edição de 1968 o filósofo francês Jean Paul Sartre, apoiava a tese de Fanon e ia mais além na defesa de uma violência não só justa, mas em sua visão, necessária:
“Nenhuma suavidade apagará as marcas da violência, só a violência é que pode destruí-las. E o colonizado se cura da neurose colonial passando o colono pelas armas. (...) No primeiro tempo da revolta é preciso matar, abater um europeu é matar dois coelhos de uma cajadada só, é suprimir ao mesmo tempo um opressor e um oprimido: restam um homem morto e um homem livre”.[9] 

O outro grande exemplo de guerra de guerrilha justa e vitoriosa que empolgou a esquerda mundial e mobilizou a formulação de propostas de ação política, nos anos 60, foi a guerra do Vietnã. A figura venerável e absolutamente digna de Ho Chi Minh, veterano das guerras anti-imperialistas na Indochina, presidente do Vietnã do Norte e  líder dos vietcongs, impunha-se no cenário político, ideológico e, de certa forma, ético- moral da época. Ho Chin Minh (morto em 1969) e a Frente de Libertação Nacional do Vietnã são, talvez, os maiores exemplos da tese da “violência justa”, da “violência – resposta” que embasou a noção positiva da violência como linguagem política legítima. “Um, dois, três, mil Vietnãs!” era um dos slogans gritados nas manifestações estudantis de 1968 na França. A vitória final dos vietcongs contra o Vietnã do Sul apoiado pelos Estados Unidos, no imaginário dos homens e mulheres que acompanhavam os acontecimentos políticos das décadas de 60 e 70 do século XX, identificava-se com a imagem da vitória de David sobre o gigante Golias: é a vitória do justo contra o mais forte.   
As guerras anticoloniais serviram de modelo para a construção do argumento teórico e político que justificava e valorizava o recurso da violência como instrumento legítimo da ação política. O direito do colonizado defender seu território – ou reavê-lo – empregando a força se necessário, era estendido a todos os oprimidos políticos ou explorados economicamente.. Como afirmou Sole na carta que escreveu na prisão, antes de seu assassinato: “a violência revolucionária era a resposta global do proletariado à violência do capital » Neste sentido, não importava muito que, em alguns países, existissem condições políticas diferentes de resposta à situação de exploração; também não importavam as distinções de fundo que existem entre o direito de um povo defender seu território, lutar contra o invasor e determinar o caminho político que deseja seguir e o processo político de regimes democráticos liberais que, mesmo que imperfeitos, oferecem canais de pressão e negociação política.
Cuba e China: um novo padrão de revolução.
Além das guerras coloniais outros exemplos de violência revolucionária se impunham no cenário político internacional: a revolução cubana e a revolução chinesa.
Nunca será demais reforçarmos a idéia do impacto da Revolução Cubana e, em especial, da figura de Che Guevara, para os jovens de esquerda não só da América Latina mas de todo o mundo. Régis Drebray, na época um jovem escritor francês, recém saído da universidade, que veio para a América Latina lutar com Che Guevara, tornou-se um exemplo para inúmeros outros jovens europeus. Debray seguiu com Guevara para a Bolívia, onde foi preso por quatro anos. O guevarismo – e sua noção particular de heroísmo, combate, ação e urgência revolucionária, no qual se justificava matar e morrer pela revolução – foi particularmente marcante para os militantes da luta armada na América Latina. “O dever do revolucionário é fazer a revolução”, era uma das palavras de ordem mais presentes e repetidas pelos militantes das organizações armadas da época. O Che que recusou qualquer posto de poder estatal em Cuba após a revolução vitoriosa e que seguiu como guerrilheiro pela África e pela América Latina, sendo morto na Bolívia, na beira de um rio, tornou-se o mais importante símbolo da imagem da revolução no século XX. Sua figura parecia tornar a violência justa e necessária, ela não o embrutecia, ao contrário, a violência revolucionária de Che Guevara o humanizava. Uma violência pura, não corruptível, não seduzível pelo poder, não domesticada. Era a violência dos despossuídos, dos fracos e humildes que encontrava naquele homem culto – médico, revolucionário e poeta – sua própria expressão. A frase de Guevara (que ninguém tem efetiva certeza se ele a pronunciou ou não) “Hay que endurecer sin perder la ternura” correu mundo em posters e camisetas, querendo mostrar, exatamente, que sua violência não o embrutecia, mas pelo contrário, o suavizava. Che Guevara foi o grande exemplo e referência para milhares de jovens que, no mundo todo, ingressaram em organizações armadas.
Pelos ecos do maoísmo chegava ao mundo ocidental a formulação teórica da proposta de “guerra popular prolongada”: a violência popular, organizada nos campos, através de um processo longo e extensivo de guerrilha rural. Neste processo – prolongado temporal e territorialmente – os camponeses pobres deveriam aderir à revolução, armando-se e tomando as regiões onde estabeleceriam comunas socialistas. A possibilidade da guerrilha rural, tal como formulada por Mao Tse Tung, colocava os camponeses como protagonistas do processo revolucionário – o que vinha ao encontro dos anseios de inúmeros revolucionários do Terceiro Mundo que buscavam uma solução socialista para países cuja economia era essencialmente rural. O protagonismo revolucionário do camponês na teoria maoísta parecia a solução para a revolução nos paises pobres da Ásia, da África e da América Latina, de industrialização precária e operariado reduzido. A teoria maoísta permitia sonhar com a revolução mesmo nos países mais atrasados. A guerrilha rural seria a resposta não apenas do lavrador oprimido mas de todo o povo espoliado pelo imperialismo.
A frase de Mao “o poder brota do cano de uma arma” animava e inspirava jovens militantes no mundo todo. Neste processo, o rumo a seguir seria dado pela própria prática revolucionária. A prática revolucionária, apenas ela, seria o critério da verdade.
A revolução cubana e a revolução chinesa, por diferentes caminhos, pareciam apontar o primado da ação, da vontade e das armas para o caminho da transformação social – em detrimento do moroso e viciado jogo de negociações parlamentares no qual pareciam submergir até mesmo os partidos comunistas e socialistas.
Novas esquerdas e novas linguagens políticas.
Com efeito, a valorização da violência como forma de ação política fazia parte de um processo mais amplo e complexo, no interior da esquerda, de questionamento das práticas políticas tradicionais dos partidos comunistas e socialistas e do próprio jogo político parlamentar. Na Europa, nos EUA e na América Latina formavam-se grupos e organizações de esquerda críticas e dissidentes dos partidos comunistas e socialistas, formadas sobretudo por jovens, empenhadas na construção de uma Nova Esquerda, com novos valores e novas práticas. Estas novas práticas e valores calcavam-se na valorização da ação direta sem intermediários, do pragmatismo, do confronto – elementos que pareciam se contrapor às rígidas estruturas hierárquicas e burocráticas não só dos partidos políticos (inclusive dos comunistas e socialistas) mas também dos grandes sindicatos, todos eles domesticados e esvaziados pelo jogo parlamentar. O enaltecimento da violência não pode, portanto, ser desvinculado de um debate interno à própria esquerda. Como também não pode ser desvinculado de um desgaste da própria democracia representativa parlamentar. Esta é, por exemplo, a explicação que Hannah Arendt dá.
No livro “Sobre a violência[10], escrito em 1969, Hannah Arendt debate com a Nova Esquerda americana a noção de “violência justa” – que  critica firmemente. Para Arendt o terreno da política é, necessariamente, o do diálogo, do confronto de idéias, da busca do convencimento. Para ela, a violência começa exatamente onde a política termina. Fazendo a distinção entre o direito de defesa de um povo, com todos os meios a seu alcance, quando invadido ou subjugado por outro (como nos exemplos da Argélia e do Vietnã), o argumento da filósofa alemã batia-se contra o enaltecimento da violência por parte dos grupos de esquerda marxista, especificamente os grupos da chamada Nova Esquerda norte americana (“New Left”). Neste debate Hannah Arendt recorre ao pensamento de Marx, para quem – ela afirma – a violência faria parte do processo revolucionário, mas não seria o elemento essencial:
Certamente, Marx estava ciente do papel da violência na história, mas esse papel era para ele secundário; não a violência, mas as contradições inerentes à velha sociedade, iriam conduzi-la ao seu próprio fim. O surgimento de uma nova sociedade era precedido, mas não causado, por irrupções violentas, que ele relacionou às dores que precedem -- mas certamente não causam -- o evento do nascimento orgânico”.[11]

A explicação que Hannah Arendt dá para o enaltecimento da violência nos anos 60 é justamente o esvaziamento da política, a burocratização dos espaços convencionais da política no mundo. Para ela, a valorização da violência expressava o desejo de recuperar a capacidade transformadora do gesto político.
Quando ela escreveu seu texto, no longínquo ano de 1969, a URSS e o Leste Europeu Comunista ainda existiam, mas Arendt vê o mesmo processo de burocratização nos dois blocos (embora com conteúdos diferentes):
“(...) Os dissidentes e resistentes no Leste exigem a liberdade de discurso e pensamento como condições preliminares para a ação política; os rebeldes do Ocidente (da Nova Esquerda) vivem sob condições em que estas preliminares não mais abre os canais para a ação, para o exercício significativo da liberdade”[12]. 

A ação é uma categoria essencial no pensamento de Hannah Arendt, para definir a vida humana, em seu sentido mais profundo:
“O que faz do homem um ser político é sua faculdade para a ação; ela o capacita a reunir-se a seus pares, agir em conserto e almejar objetivos e empreendimentos que jamais passariam por sua mente, deixando de lado os desejos de seu coração, se a ele não tivesse sido concedido este dom – o de aventurar-se em algo novo. Filosoficamente falando, agir é a resposta humana para a condição da natalidade.”[13]

O encolhimento da esfera pública, a burocratização das repúblicas, a transformação da noção política de “governo” em noção técnica de “administração”, o surgimento das burocracias partidárias que engoliram nas últimas décadas o sentido ideológico dos partidos – teriam reduzido enormemente a capacidade de ação e, mais do que tudo, o potencial transformador da ação política no mundo contemporâneo. A estas questões levantadas por Hannah Arendt poderíamos acrescentar também, principalmente no que concerne à América Latina, a ineficácia da política na resolução de problemas crônicos como a persistência de desigualdade e da injustiça social.
Para inúmeros jovens de esquerda habitantes das cidades ocidentais da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina esta capacidade transformadora parecia estar presente, de forma cristalina e autêntica nos movimentos armados que lutavam contra o imperialismo, como na Argélia, no Vietnã e na pequena ilha de Cuba. A juventude ocidental, em seu desejo de radicalidade e ação, erigia estes guerrilheiros como exemplos modelares e via nestes casos, e em outros, uma violência mais do que justificada, purificadora – que eles desejavam, de algum modo, reproduzir e espalhar pelo mundo. O enaltecimento da violência estaria, portanto, ligado ao desejo de recuperar o próprio sentido da ação política que é, no seu cerne, intimamente ligado à idéia de transformação. Para Hannah Arendt: “muito da presente glorificação da violência é causada pela severa frustração da faculdade de ação no mundo moderno”.[14]

O mesmo anseio pela ação moldou no Brasil uma esquerda dissidente, crítica ferrenha do PCB – visto como imobilista, pacifista e reformista.
No livro “Imagens da Revolução”, Daniel Aarão Reis[15] faz uma caracterização da esquerda radical que surge entre os anos 60 e 70 no Brasil – uma esquerda que se auto intitulava “Esquerda Revolucionária” – em que destaca exatamente este ponto: o anseio pela ação imediata e pelo pragmatismo. Uma das grandes acusações que faziam ao Partido Comunista Brasileiro era, exatamente, a de imobilismo. Os grupos e organizações dissidentes que se formavam desejavam agir imediatamente. Qualquer retardamento da ação era visto como um ato de covardia. O foco guerrilheiro - voltado para a luta, para a ação - era a instância privilegiada de organização, em detrimento dos partidos, associados a “reuniões infindáveis, complicados organogramas, direções pesadas e documentos ilegíveis”.[16]
Exatamente esta crítica aparece na “Carta ao Comitê Executivo do PCB”, escrita em 1966, por Carlos Marighella, quando rompeu com o Partido para iniciar a luta armada:
“Escrevo-lhes para pedir demissão da atual Executiva. O contraste de nossas posições políticas e ideológicas é demasiado grande e existe entre nós uma situação insustentável. (...) O centro da gravidade do trabalho executivo (do PCB) repousa em fazer reuniões, redigir notas políticas e elaborar informes. Não há assim ação planejada, a atividade não gira em torno da luta. Nos momentos execpcionais o partido inevitavelmente estará sem condutos para mover-se, não ouvirá a voz do comando, como já aconteceu face à renúncia de Jânio e à deposição de Goulart. Solicitando demissão da atual Executiva – como o faço aqui – desejo tornar público que minha disposição é lutar revolucionariamente, junto com as massas e jamais ficar à espera das regras do jogo político burocrático e convencional que impera na liderança”[17].

O desejo de ação imediata expresso por Marighela e sua disposição em iniciar o que chama de luta revolucionária, era compartilhado por muitos outros militantes da esquerda brasileira e foi o que deu sustentação para a luta armada.
América Latina e guerrilha na segunda metade do século XX: “imersão na luta armada”
Na segunda metade do século XX, principalmente a partir dos anos 1960, ocorreu na América Latina, usando a expressão do historiador Jacob Gorender, uma “imersão geral na luta armada[18], impulsionada em grande parte pelo sucesso da revolução cubana. A proliferação de organizações armadas, pelos diversos países do continente, agia no sentido de confirmar o modelo cubano e reiterar como que uma vocação da América Latina para a guerrilha. A luta armada aparecia para inúmeros homens e mulheres de muitos destes países, como o único caminho para a superação das enormes desigualdades sociais e das gritantes injustiças que pesavam sobre o povo pobre, em muitos casos, completamente desassistido; o melhor caminho para a luta contra o poder despótico exercido nas áreas rurais, para o enfrentamento de caudilhos e militares golpistas e contra o imperialismo norte-americano.
Em 1962 foi fundado, por Raúl Sendic, no Uruguai, o Movimiento de Liberación Nacional, mais conhecido como os “Tupamaros”. Em sua maioria seus membros eram oriundos da juventude socialista uruguaia. De cunho nacionalista lançaram-se à uma guerrilha essencialmente urbana, realizando ações ousadas como sequestros de  diplomatas e autoridades. Na segunda metade dos anos 60 o grupo chegou a contar com mais de 2000 componentes[19]. O lema tupamaro expressava a sua compreensão radical da política: “haverá pátria para todos ou não haverá pátria para ninguém”. Na Venezuela, em 1965, Douglas Bravo, antigo dirigente do Partido Comunista Venezuelano (PCV), rompeu com este e criou o Partido da Revolução Venezuelana (PRV), permanecendo até os anos 70 na serra com um pequeno núcleo guerrilheiro.[20] Na Colômbia, também em 1965, foi criado o Ejército de Liberación Nacional. No ano anterior (1964) o Partido Comunista Colombiano havia criado um braço armado: as Fuerzas Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC). Esta é uma distinção digna de nota porque constitui uma diferença importante em relação aos demais países da América Latina, onde a maioria dos Partidos Comunistas se opôs – ou pelo menos, não se integrou – à luta armada. No Brasil, para fundar, em 1967, a organização guerrilheira Ação Libertadora Nacional (ALN), o histórico dirigente do PCB, Carlos Marighela rompeu com o Partido. Da mesma forma, em 1968, Jacob Gorender, Mário Alves e Apolônio de Carvalho, saíram do PCB para criar o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), voltado para a luta armada. No Chile, em 1965 foi fundado o Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), pela fusão de grupos de jovens oriundos dos partidos comunistas e socialistas e do Partido Operário revolucionário, de tendência trotskista. Em 1967, sob a liderança do grupo de dirigentes estudantis da Universidade de Concepción, o MIR adotou as teses de Régis Debray sobre a luta armada[21]. As relações entre o MIR e a Unidade Popular durante o governo de Allende – que confrontavam duas estratégias bem diferentes de ação política (tendo a UP chegado ao poder através do voto) é um capítulo a parte deste processo do qual voltaremos a falar mais adiante.
Na Argentina, desde 1967, estavam surgindo organizações guerrilheiras, no âmbito da esquerda ou do peronismo: Fuerzas Armadas Peronistas, Descamisados, Fuerzas Armadas Revolucionárias (FAR), Fuerzas Armadas de Liberación e, no início de 1970, já estavam em atividade as duas organizações armadas que tiveram maior influência política e atraiam o maior número de militantes, especialmente, jovens: o Ejército Revolucionário del Pueblo (ERP), vinculado ao grupo trotskista do Partido Revolucionário dos Trabalhadores e os Montoneros, organização surgida de movimentos juvenis católicos nacionalistas que se aproximaram do peronismo[22].
Com características um pouco diferentes são os movimentos de guerrilha de El Salvador e Nicarágua. Em muitos países da América Latina, como Argentina, Brasil, Uruguai, a base principal das organizações de luta armada era composta de jovens universitários que realizavam essencialmente guerrilha urbana – seqüestros de autoridades políticas (quase sempre tendo em vista a libertação de presos políticos), assaltos a bancos para recolher fundos, assaltos a depósitos militares de armamentos. El Salvador e Nicarágua viveram situações um pouco diferentes: longo período de guerrilha, com forte base popular e camponesa. Mas nos dois casos a participação de jovens, muitas vezes egressos de organizações juvenis de partidos de esquerda foi importante.
No início dos anos 70, em El Salvador, um grupo de jovens ex-militantes da Juventude Comunista e do Partido Democrata Cristão, fundou uma organização de luta armada que foi batizada simplesmente “El Grupo”. Em 1972 seus militantes criaram o Ejército Revolucionário del Pueblo de El Salvador . Em 1980 diversos grupos de guerrilha se juntaram e criaram a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional que durante mais de uma década empregou a guerrilha rural em El Salvador. A guerra civil foi duríssima. Os Estados Unidos apoiavam o governo com dinheiro, equipamentos e assessoria militar. Mas, ao longo dos anos 80 a guerrilha salvadorenha conseguiu conquistar diversas regiões do país. A guerrilha de El Salvador, uma das mais longas da América Central, só terminou em 1992 quando diversos partidos políticos iniciaram um processo de paz. Na Nicarágua, em 1962, foi criada a Frente Sandinista de Libertação Nacional. Seu nome era uma homenagem ao histórico líder Augusto César Sandino, que nos anos 30 havia lutado contra a intervenção militar norte-americana na Nicarágua. Em 1978 o assassinato do líder e jornalista oposicionista Joaquim Chamorro provocou grande revolta e foi o estopim da guerra civil. Em agosto deste ano os sandinistas, liderados pelo Comandante Zero tomaram o Palácio Nacional em Manágua. Foi o início da queda do ditador Somoza.  Em 1979 a Frente Sandinista conseguiu derrubar Somoza, nacionalizou bancos e iniciou a reforma agrária. A vitória dos sandinistas foi comemorada com grande festa na América Latina. Como em El Salvador, os Estado Unidos armaram e financiaram os “contra” mas não conseguiram reverter o processo. Nos muros de vários países latino-americanos (o Brasil entre eles) aparecia a pixação “Tirem as mãos da Nicarágua!” O financiamento aos “contra” foi suspenso em 1989 depois do escândalo “Irã- contras[23]. Sem financiamento e desarmados os grupos anti-sandinistas tiveram que se submeter a acordos de pacificação. A Nicarágua hoje segue buscando um caminho de construção democrática. Nas últimas eleições presidenciais, em 2006, Daniel Ortega, antigo líder sandinista, foi vitorioso. 
No Peru, o Sendero Luminoso, organização de orientação maoísta, fundada nos anos 60 por estudantes e professores universitários da Província de Ayacucho,  instaurou uma violenta ação de guerrilha nesta região. Durante muitos anos, o Sendero e as Forças Armadas do Peru empreenderam uma guerra que desabou em cheio sobre os camponeses.
Mas os exemplos não param aí. Esta lista não esgota o número e os tipos de organizações armadas rurais e urbanas, de maior ou menor duração, que se espalharam, literalmente como um rastilho de pólvora pela América Latina na segunda metade do século XX e concentradamente nas décadas de 1960 e 70.

Política X Violência

No livro “A Era dos Extremos” o historiador inglês Eric Hobsbawm comenta que um fato impressionava tanto os adeptos da revolução como os seus adversários: que a forma de luta básica no Terceiro Mundo parecia ser a guerra de guerrilha[24]. A marca da guerrilha como ação política essencial fez-se presente não apenas nos países da América Latina mas de praticamente todo o Terceiro Mundo. Hobsbawm associa esta marca a um rompimento com uma determinada tradição revolucionária, calcada no modelo da revolução russa.
A questão levantada por Hobsbawm se assemelha, de certa forma, ao ponto debatido por Hannah Arendt: a concepção da violência como periférica à revolução socialista; parte integrante do processo mas não essencial. Sem dúvida a violência era um recurso importante. O povo armado é um símbolo das revoluções em todos os lugares do mundo. Mas – pelo menos na teoria leninista – este povo estava armado sobretudo para impedir a violência contra – revolucionária. A violência em si, não era um valor. E nem a ação política se apoiava essencialmente na violência. Ao contrário, ela se apoiava, antes de tudo, na divulgação de idéias (“agitação e propaganda”), no estabelecimento de metas, na elaboração e distribuição de jornais e panfletos, no recrutamento de quadros, no debate político, no fortalecimento de um partido – que, se necessário, utilizaria a violência. Mas esta não era o sustentáculo de sua ação nem o sentido de sua prática. Muito mais do que organizar a violência, o trabalho daqueles que desejavam agir em prol de uma revolução socialista, era divulgar idéias e organizar pessoas. Certamente os militantes deveriam se armar, aprender a manusear estas armas e estarem prontos para usá-las. Mais ainda: deveriam armar o povo e prepará-lo para lutar, se fosse necessário. Mas a violência não era a essência da ação política. Mesmo no momento da tomada de poder ela é pensada como recurso, como instrumento: recurso para ser usado de forma rápida, na tomada de pontos estratégicos ou recurso defensivo, contra a resistência anti-revolucionária.  Esta concepção de ação política embasou o modelo da revolução insurrecional, cujo exemplo principal foi a revolução russa: uma insurreição política apoiada por operários organizados em seus sindicatos e dirigida pelos comunistas, que tomam o poder em poucos dias e o transferem para a classe operária organizada. A insurreição é um momento capital. Mas, na verdade todo o trabalho revolucionário foi feito antes da insurreição. A ela se seguirá a construção do socialismo – que também não deve se basear essencialmente na violência.
O enaltecimento e a valorização da violência como parte essencial da ação política seria, portanto, estranho à teoria marxista – tanto para Hannah Arendt quanto para Hobsbawm – autores de filiações políticas e linhagens ideológicas bastante distintas. E significava uma ruptura com uma tradição e com um modelo de revolução que a primeira metade do século XX consagrara. No qual os homens e mulheres da segunda metade do mesmo século não pareciam mais acreditar.
Certamente muitos dirigentes de organizações armadas na América Latina tinham consciência deste problema, da diferença que existe entre “luta política” e “luta armada”. O próprio Che refletiu e escreveu sobre o problema, insistindo na dimensão política e de massas que a luta armada deveria ter e condenando ações voluntaristas que não se apoiassem nas massas. No texto “Guerra de guerrilhas, um método”, escrito em 1963, Guevara escreve:
Quase imediatamente surge a pergunta: o método da guerra de guerrilhas é a única fórmula para a tomada do poder em toda a América? Ou, de qualquer forma, será a fórmula predominante? Ou, simplesmente, será uma fórmula a mais entre todas as usadas para a luta? E em última instância se perguntam, o exemplo de Cuba será aplicável a outras realidades continentais? Pelo caminho da polêmica, costuma-se criticar aqueles que querem adotar a guerra de guerrilhas, alegando que se esquecem da luta de massas. Pretender realizar este tipo de guerra sem o apoio da população é o prelúdio de um desastre inevitável. A guerrilha é a vanguarda combativa do povo, situada em um determinado lugar de um certo território, armada, disposta a realizar uma série de ações bélicas tendentes ao único fim estratégico possível: a tomada do poder. Está apoiada pelas massas camponesas e operárias da região e de todo o território em questão. Sem estas premissas não se pode admitir a guerra de guerrilhas[25].
 

Na América Latina, duas outras matrizes de pensamento influíram na construção teórica e política da luta armada: o catolicismo radical e a corrente teórica e política do “terceiro mundismo”.
Católicos em armas.
Apesar de seu papel histórico de instituição tradicional e reacionária em várias partes do mundo, na América Latina, no entanto, a Igreja Católica (ou pelo menos parte dela) teve papel importante na radicalidade das lutas políticas, se somando a movimentos populares e a organizações de esquerda. Em 1967 bispos de vários países da América Latina, encabeçados pelo brasileiro D. Helder Câmara, bispo de Olinda e Recife, proclamaram que a opção preferencial dos sacerdotes do Terceiro Mundo deveria ser a “opção pelos pobres”. Bispos e padres da Igreja Católica passaram a desenvolver um  intenso trabalho social que assumia cada vez mais uma dimensão política. No Brasil eram organizadas no campo e na cidade comunidades eclesiais de base (CEBs) e sacerdotes e freiras se envolviam com os movimentos populares e sofriam sobretudo com a violência rural. E em outros países latino-americanos os sacerdotes radicalizavam o conteúdo da “opção pelos pobres” e não só justificavam a “violência dos de baixo” contra a violência dos de cima”, como algumas vezes também pegavam em armas. A figura emblemática deste sacerdote armado é Camilo Torres, padre colombiano que se uniu à guerrilha e morreu em combate em fevereiro de 1966. Um trecho de um panfleto escrito por ele em 1965, um ano antes de morrer, intitulado “Mensaje a los cristianos” (e reproduzido na antologia de textos políticos “Marxismo na América Latina”, organizada por Michael Lowy) dá uma dimensão do seu pensamento:

“A revolução pode ser pacífica se as minorias não fizerem resistência violenta (...). A revolução é a forma de obter um governo que dê comida para o faminto, que vista o despido, que ensine quem não sabe (...). Com isso a revolução não é só permitida, como obrigatória para os cristãos que vejam nela a única maneira eficaz e ampla de realizar o amor para todos.”[26]

Esta tendência mais radical do Movimento dos Sacerdotes do Terceiro Mundo teve rápida expansão em muitos países latino-americanos. E teve particular importância no caso da Argentina. Como salientou o historiador Luis Roberto Romero, os sacerdotes terceiro mundistas facilitaram a incorporação política e militante de vastos contingentes de jovens educados em colégios religiosos. Muitos destes jovens formados no nacionalismo católico assumiram a solidariedade e o compromisso com os pobres e com o peronismo, tendo sido esta uma das bases da organização guerrilheira dos Montoneros.[27]

O “Terceiromundismo” como posição política

 Por fim cabe ainda mencionar a importância de uma reflexão política e teórica que pode ser genericamente chamada de “terceiromundismo”. As teses “terceiromundistas” afirmavam a profunda desigualdade do desenvolvimento capitalista mundial que engendrava uma cruel divisão internacional do trabalho. Advogavam também que, dado as características do capitalismo desenvolvido, a classe operária do chamado Primeiro Mundo (Europa e América do Norte) teria perdido seu potencial revolucionário, domesticada e satisfeita com seu acesso às benesses e ao consumo dos bens capitalistas. Este potencial revolucionário das classes trabalhadoras teria se deslocado então para o Terceiro Mundo. Variantes dessa corrente apontavam que este deslocamento não teria sido apenas geográfico, mas também social: no Terceiro Mundo seriam os camponeses e marginalizados os herdeiros da potencialidade revolucionária. De qualquer forma, para o conjunto destas correntes, a revolução socialista começaria no Terceiro Mundo – onde as contradições do capitalismo eram mais candentes – ou não começaria. Daí a importância estratégica do Terceiro Mundo para a revolução socialista mundial, daí a urgência dos revolucionários latino-americanos.
Além disso, a situação política da maioria dos países do Terceiro Mundo – submetidos a regimes ditatoriais, sem garantias de respeito aos direitos humanos, sem o livre exercício da cidadania política, sujeitos muitas vezes a sucessivos golpes militares, com desigualdades e injustiças sociais cruéis – não só tornava a realidade política extremamente explosiva como justificava e incentivava o recurso à violência. Esta seria, no contexto do Terceiro Mundo, a luta política legítima de sociedades que desejavam se emancipar e abrir a porta para o socialismo. A crença no potencial revolucionário do Terceiro Mundo – mais que isso: a crença em sua tarefa revolucionária – impulsionou a luta armada na América Latina.

Chile: uma experiência no limite do pacifismo.
Ao se refletir sobre os projetos revolucionários dos anos 1960 e 70 na América Latina, marcados pela guerrilha e pela valorização da violência revolucionária, não se pode deixar de fazer a referência ao Chile e ao contraponto dramático que ele representou. Num tempo e num continente que, prioritariamente, optou pela luta armada, o Chile foi uma especial singularidade: representou a tentativa de uma via pacífica para o socialismo e foi derrubado violentamente pelas Forças Armadas chilenas com apoio do governo norte-americano. Para muitos militantes de esquerda no mundo todo, a queda do governo da Unidade Popular e o assassinato de Salvador Allende, em 1973, pareceu ser a confirmação da justeza do emprego da violência como ação política. Alberto Aggio, na apresentação de seu livro “Democracia e Socialismo: a experiência chilena[28], afirma:

“O fato mais marcante desta experiência histórica foi a tentativa de construção do socialismo por meio de mecanismos legais e institucionais de um Estado representativo e democrático, como o que existia no Chile ao iniciar-se a década de 1970. A ascensão da esquerda à presidência da República, através de Salvador Allende, representou uma opção diferentes de construção do socialismo. No entanto, o seu fracasso em 11 de setembro de 1973, quando foi deposto por um golpe militar, contribuiu para reacender a discussão em torno da validade de se realizar a construção do socialismo através da democracia”.[29]

Sem entrar mais profundamente na análise política da experiência chilena – que demandaria um trabalho específico – interessa-nos apontar aqui esta singularidade do caso do Chile e a presença do debate sobre a violência no cenário político do governo da Unidade Popular.
O Chile anterior ao governo de Allende era um país que, diferentemente da maioria dos países da América Latina, tinha uma histórica estabilidade política comparável aos mais consolidados países ocidentais, com política pluralista e tradição de alternância de poder.[30] No entanto, em oposição a este avançado lado político, o Chile ainda era um país pobre e subdesenvolvido, de economia dependente, como seus irmãos latino-americanos. Contra este atraso econômico, em torno de uma plataforma de “transformações estruturais”, reuniram-se diversos partidos na coalizão de esquerda “Unidade Popular”: o Partido Comunista, o Partido Socialista, os social-democratas (PSD), a Ação Popular Independente (API) e parte da esquerda católica, o Movimento de Ação Popular Unificado (MAPU). Nas eleições de 1970 a Unidade Popular (UP) chegou ao poder; seu candidato, Salvador Allende, foi eleito presidente da República. Allende reiterou, diversas vezes, que as “transformações estruturais” que seu governo tinha por objetivo realizar significariam uma “transição para o socialismo pela via democrática”. Allende usava diversas expressões que procuravam diferenciar o processo político que o Chile estava vivendo. Empregava o termo “via político-institucional” para se distinguir da “via insurrecional”, falava em “via pacífica” em oposição à “via armada”.[31] Assim, a “experiência chilena” passou para a história como a tentativa de construção de uma via democrática para o socialismo – num momento em que boa parte da esquerda latino-americana buscava o caminho da luta armada. E por isso mesmo, tanto o período do governo da Unidade Popular, como o momento posterior à queda de Allende (e as avaliações sobre a queda) tem a marca deste confronto político e teórico. Uma parte da esquerda chilena – composta sobretudo por jovens universitários e intelectuais – recusava a “via pacífica e democrática” para o socialismo proposta pela Unidade Popular e acusava o governo de reformismo. O MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionário) realizara ações armadas até poucos meses antes das eleições com o objetivo de desestabilizar o processo eleitoral.[32]Embora tenha mudado a sua postura após a vitória da Unidade Popular continuou com sua postura crítica em relação ao governo de Allende, combatendo o “reformismo” e a “via pacífia”. Poucos meses antes do golpe que derrubou Allende, o Secretariado Nacional do MIR lançou um documento na Revista Punto Final, intitulado “O MIR responde al Partido Comunista” em que explicitava sua posição em relação ao Governo da Unidade Popular:

“(...) No Chile nunca houve nem começou transição alguma do capitalismo para o socialismo. O que aconteceu, desde o dia 4 de setembro de 1970 até hoje, é uma transição para um capitalismo de Estado, sob a direção de um governo reformista de esquerda”[33].

Esta foi a posição que o MIR manteve até o fim em relação ao governo da Unidade Popular. Logo depois do golpe que derrubou Allende em setembro de 1973, Miguel Enriquez, um dos principais teóricos do MIR, do grupo original da Universidade de Concepción que fundou a organização, deu uma entrevista para o jornal francês de esquerda “Rouge”, em que afirmou:

“Não foi o socialismo nem a política revolucionáriao que fracassou no Chile, mas uma débil tentativa reformista”[34].

Pouco tempo depois Enriquez foi preso e morto pela repressão chilena.
O governo da UP foi, portanto, uma tentativa singular de construção de um caminho pacífico para o socialismo, numa América Latina radicalizada pelo emprego da violência e da luta armada. No entanto, é significativo o seu estatuto simbólico para os homens e mulheres que viveram aquela época. O Chile representa para esta geração, algo semelhante ao que significou, para a geração do entre guerras, a Guerra Civil Espanhola. A derrubada violenta de um governo legitimamente eleito, a repressão apoiada por um governo “de fora”, militarmente superior (a Alemanha no caso da Espanha Republicana, os EUA no caso do Chile). A interrupção violenta de uma experiência política em que amplos setores da sociedade participavam, apostavam e apoiavam.

Brasil: luta armada X resistência.
No Brasil, assim como em vários países da América Latina, a opção pela luta armada significou um confronto com o Partido Comunista. Entre 1962 e 1972 criaram-se inúmeras organizações de esquerda, a maioria delas egressas direta ou indiretamente do PCB e quase todas voltadas para a luta armada. A maioria delas criticava o PCB pelo imobilismo, pelo pacifismo e pelo reformismo. Para muitas destas organizações, o golpe de 64 tinha sido, de certa forma, produto desta postura que criticavam no Partido Comunista: a campanha pelas “Reformas de Base”, especialmente a reforma agrária, levada pelo governo Goulart e pela frente nacionalista e de esquerda liderada pelos comunistas, ameaçara perigosamente os latifundiários mas não preparara o povo para o confronto; não armara o povo. Aliás, nesta visão, nem o Partido Comunista se preparara para enfrentar uma eventual reação. A postura essencialmente “reformista” e não revolucionária do PCB teria sido responsável pelo golpe de 64. A luta armada, portanto, era a afirmação de um outro caminho político para a revolução brasileira: o caminho da “via revolucionária”.
Mas luta armada no Brasil também se relaciona com a questão da juventude e da radicalidade que estamos discutindo. Não apenas porque a maioria de seus quadros era de jovens universitários mas porque, numa certa medida, a luta armada no Brasil pode ser vista como o resultado da repressão de imensas energias juvenis brotadas ao longo das manifestações de 1968 e subitamente cortadas em 1969 com o AI-5. Como já foi apontado por outros historiadores (Daniel Aarão Reis, Marcelo Ridenti, Denise Rollenberg) e reforçado aqui neste texto, a opção pela luta armada não foi uma resposta ao endurecimento do regime, ela já vinha sendo discutida pela esquerda brasileira (assim como a esquerda latino americana) desde o início dos anos 60. Mas é inegável que o AI5 teve papel determinante na disseminação desta opção entre jovens estudantes e universitários, na medida em que tentava reprimir e bloquear as formidáveis energias surgidas ao longo de toda a década de 60 e sobretudo do ano de 1968. Coagida e limitada, a radicalidade experimentada por esta juventude canalizou-se para a ação armada.
As primeiras organizações especificamente voltadas para a luta armada foram criadas em 1966: Ala Vermelha do PC do B, Dissidência Comunista da Guanabara (que mais tarde mudará o nome para Movimento Revolucionário 8 de Outubro, MR-8, em homenagem à Che Guavara); em 1967 foi criada por Marighela a Ação Libertadora Nacional (ALN) e a COLINA; em 1968 surgiram o PCBR e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR); em 1969 a VAR- Palmares. A lista é certamente incompleta e não dá conta das várias fusões que também se estabeleceram. Como escreveu Gorender, a partir de 1968 ocorreu uma verdadeira “imersão na luta armada”.
No entanto, a experiência da luta armada no Brasil foi curta e trágica. Entre 1969 e 1972 a maioria das organizações foi desbaratada, os militantes presos, mortos, exilados, banidos. Após a derrota militar e política da luta armada organizações e militantes sobreviventes iniciaram, no exílio, o processo de autocrítica desta experiência e a construção de uma linha política que definia a conjuntura política brasileira como sendo de “resistência” (e não de enfrentamento) e propunha a organização de uma frente de luta pelas liberdades democráticas. A estruturação desta frente reaproximava os militantes da “Nova Esquerda” e os sobreviventes das organizações armadas ao PCB e aos setores de uma oposição liberal. Mas, justamente, a presença destes militantes e destas organizações imprimia à frente democrática um impulso e uma radicalidade que ela, por si só, talvez não tivesse. Mais uma vez, ainda neste caso, os responsáveis por esta radicalidade foram os jovens estudantes, universitários e secundaristas que se agregavam nas “tendências estudantis”, pelo Brasil a fora – que eram os braços legais de organizações e partidos clandestinos. Algumas organizações de esquerda preferiram não se integrar e acusaram esta frente de “reformista”, mas a maioria dos partidos e organizações da chamada Nova Esquerda, incluindo os sobreviventes da luta armada, se juntaram à frente democrática do qual participavam também o PCB, o PC do B, organizações trotskistas e os demais setores da oposição: o MDB, as associações profissionais de classe média, a Igreja, jornalistas, artistas, intelectuais.
Mas foram certamente os estudantes que, nesse momento, imprimiram um certo tipo de radicalidade a esta frente que extrapolou os espaços mais institucionais e ganhou as ruas das capitais do país. Neste momento do enfrentamento com o regime militar a noção de “violência revolucionária” foi substituída pela noção de “resistência”. As manifestações estudantis, passaram a insistir em seu caráter pacífico. os estudantes muitas vezes sentavam-se no chão (em vez de jogar bolinha de gude para derrubar os cavalos das tropas de choque.como faziam nas manifestações de 68).
Mas ainda aqui o sentido da palavra “resistência” era um sentido combatente. Era uma tática de enfrentamento político que, para muitos, visava obter melhores condições para uma futura retomada do projeto de revolução socialista. Era uma tática de recuo e não o abandono do projeto revolucionário.
Após o processo de redemocratização instaurado através de uma negociação entre partidos[35] e grupos políticos parecem ocorrer dois fenômenos curiosos: de um lado, como já foi apontado por outros expositores aqui neste seminário, ninguém declaradamente se identifica com a ditadura militar e com sua ação repressiva. Por outro lado, também a luta armada aparece, várias vezes, esvaziada de seu sentido político e apontada quase como um elemento de “restauração democrática”. Procurar entender o projeto político, a visão de mundo que sustentava a noção de uma violência justa e revolucionária é fundamental para historiadores entenderem as motivações de alguns dos atores políticos da época: jovens universitários, cultos, letrados, com alto nível de informação e de formação intelectual, profundamente radicalizados.

O Pacifismo como linguagem política.
No final do século XX começou a crescer entre jovens de esquerda – pelo menos em boa parte do mundo ocidental – a noção do pacifismo como linguagem política. Em função deste movimento que se alastrou por vários países a violência revolucionária perdeu muito de seu espaço. A noção de pacifismo que surgia no final do milênio tinha a ver com a consciência que a humanidade adquirira sobre a real possibilidade de destruição do planeta pelas armas nucleares. Mas não apenas, tinha a ver também com a falência do socialismo nos países em que tinha sido implantado e onde tinham sido geradas novas formas de opressão política e de violência contra as pessoas A experiência política de boa parte do mundo ocidental colocava a importância da democracia como forma de defesa da integridade física e moral das pessoas e garantia de seus direitos civis e políticos. As esquerdas chegavam ao final do milênio reconsiderando valores e padrões de comportamento de décadas passadas. Entre eles a noção positiva de violência perdia terreno para a valorização da democracia e dos Direitos Humanos.

A violência como um problema

Mas a violência ainda perdura como um problema. Na América Latina, hoje, os processos de redemocratização e de pactuação política estão sendo vividos fortemente influenciados pela questão da violência. Muitos dos graves problemas atuais são marcados pela violência: as desigualdades sociais, a corrupção, a criminalidade, a explosão caótica urbana. Além disso, a violência do passado assombra o presente: os mortos, os desaparecidos, os torturados. Como construir um pacto político por cima da violência do passado e do presente? Quais as implicações da memória na história e na política de muitos destes países na América Latina – e no Terceiro Mundo? Como construir um pacto político por sobre denúncias de tortura, lembranças de desaparecidos nunca encontrados, memórias de violência nunca reparadas? Como construir um pacto político por sobre o cadáver de um presidente assassinado no Palácio de La Moneda?
Estas questões são cruciais para o momento político atual. Para enfrentá-las é fundamental entender o sentido dado à ação política, em diferentes épocas, por homens e mulheres reais. O problema da violência associada à ação política desafia os historiadores.

Nos anos 60 e 70 diversas gerações, em diferentes partes do mundo, e com grande força na América Latina, acreditaram e apostaram numa violência justificada teórica e politicamente porque criaria um mundo novo. Tentar recuperar – ou pelo menos entender este sentido da violência – é tentar entender uma parte significativa do espírito de uma época. 

Referências bibliográficas


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Site da Internet: www.geocities.com/autonomia


[1] Este texto incorpora algumas questões surgidas no momento do debate com o plenário, após as exposições dos integrantes da Mesa-redonda, em especial as sugestões dos professores Manoel Garreton e Alberto Aggio.
[2] O acervo “Memórias de Esquerda”, faz parte do Núcleo de História Oral e Memória do Laboratório de Estudos do Tempo Presente, IFCS/UFRJ.
[4] Monicelli, “L´ultra sinistra in Itália (1968-1978). Tempi Nuovo, 1978.
[5] Ingolf & Eckard, “Ils Vivent autremment”, Paris, Stock2, 1982.
[7] Retomo aqui uma discussão sobre a violência apresentada em meu livro “A Utopia Fragmentada: novas esquerdas no Brasil e no mundo nos anos 1970”, RJ, FGV, 2000.
[8] Fanon, “Os condenados da terra”, RJ, Civ. Brasileira, 1968.
[9] Idem.
[10] Hannah Arendt. “Sobre a violência” (1969), RJ, Relume –Dumará, 1994.
[11]Hanna Arendt, op.cit., pp18.
[12] H. Arendt, op. cit. pp 59.
[13] Idem.
[14] Arendt, pp 60.
[15] Daniel Aarão Reis & Jair Ferreira de Sá, “Imagens da Revolução” , 2. ed., SP, Expressão Popular, 2006.
[16]Daniel Aarão Reis & Jair Ferreira de Sá, op. cit. pp15.
[17] Carlos Marighela, “Carta ao Comitê Executivo do PCB” IN: Lowy, (org.) “O marxismo na América Latina. Uma antologia d e1909 aos dias atuais”, SP, Fundação Perseu Abramo, 1999, pp 297.
[18] Jacob Gorender, “Combate nas trevas. A esquerda brasileira: da ilusão perdida à luta armada”, SP, Ática, 1987.
[19] Samantha Quadrat, “A repressão sem fronteiras”, tese de doutorado em História, UFF, 2005.
[20] Lowy, op.cit, pp 289.
[21] Lowy, op. cit, pp 327
[22] Romero, “Breve História Contemporânea de la Argentina”, FCEA, 2005.
[23] O escândalo “Irã-contras” foi como ficou conhecido o episódio em que jornais americanos denunciaram que a verba que financiava os rebeldes anti-sandinistas na Nicarágua provinha da venda de armas norte-americanas para o Irã.
[24] Hobsbawm, “A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991)”, SP, Companhia das Letras, 1995.
[25] Ernesto Che Guevara, “Guerra de guerrilhas, um método” IN: Lowy, op. cit. Pp 275.
[26] Michael Lowy , (Org.)“O Marxismo na América Latina: uma antologia de 1909 aos dias atuais”, SP, Ed. Fundação Perseu Abramo, 1999, pp292
[27] Luis Roberto Romero, “Breve historia contemporánea de la Argentina, 2001, Buenos Aires, Fondo de Cultura Economica de Argentina.
[28] Alberto Aggio, “Democracia e Socialismo: a experiência chilena”, SP, Annablume, 2002.
[29] Aggio, op.cit, pp 11.
[30] Aggio, op. cit, pp 19.
[31] Idem pp 22.
[32] Idem, pp 50.
[33] Lowy, op.cit. pp 336
[34] Idem, pp 342
[35] Os partidos políticos que participaram deste processo tinham sido criados pela reforma partidária de 1979.